sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Diário ─ capítulo 13

Parte 01 ─ Noite de 03/09/2010



Ramos, hoje eu desejei simplesmente morrer. Serei completamente sincero contigo. Peguei uma van para ir pra faculdade. Desci no Ponto da Baixa do Fiscal, quem é suburbano sabe onde é. Aí vem a desgraça. Fiquei esperando a peste de um ônibus na desgraça do ponto. Bateu uma da tarde e desgraça não vinha. Resolvi pegar a desgraça do primeiro ônibus que servisse e passasse pela Ladeira da montanha. Aí eu solto numa peste de um ponto de ônibus onde nenhuma desgraça de ônibus que servia para. Tive que gastar uma peste, uma desgraça de um dinheiro que quase não tinha numa peste de um ônibus que não pega meia-passagem.

Moral da história: se for a Salvador, Ba, é melhor chamar um taxi ou ir helicóptero. Por que simplesmente o transporte público deste lugar é pior que o de qualquer outro lugar, e mais atrasável que menstruação de mulher sem útero.

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Já passou. Era apenas uma raiva passageira de hoje pela tarde.
Mas não queria falar sobre isso. Queria falar sobre uma experiência relacionada, a qual eu não gostei da minha reação.

Estava sentado na van. Sentei no fundo. Estava de Bermuda quase xadrez, camisa vermelha escura e all star preto e branco. Aí num ponto entra uma família inteira: um pai, uma mãe, dois filhos. Até aí nada de impressionante.
O lugar aonde quero chegar é (retorna a fita) os dois filhos. Um deles era uma menina, bebÊ de colo. Nada demais, não é? Entretanto a minha reação foi rejeitar a criatura que não tinha nem 3 meses de idade. Continua sem nada de interessante, né?
A minha rejeição foi uma crise de ânsia de vômito. Enjôo. Não consegui olhar pra criatura nem quando a família estava fora do campo de visão.

Isto foi algo que eu não gostaria de ter feito. Queria ter feito o oposto. Me lembro de também ter rejeitado meu sobrinho quando ele tinha esta idade. Mas não foi tão forte assim.

Será que numa vida passada eu tive uma cria e esta cria morreu mais ou menos com a mesma idade?
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Fiquei um pouco atormentadocom isso. Afinal nunca rejeitei ninguém desta forma.
Mas eu não quero falar sobre isso. Não mais neste momento.

parte 02 ─ ainda de noite


Eu queria falar agora sobre outra coisa, ou melhor sobre uma pessoa.
Eu entrei para o BI de ciência e tecnologia da UFBA no início deste ano. Conheci muita pessoas, que lembro o rosto e de vez em quando, ou pessoas com quem falo diariamente, me recordo o nome. Desde de que conheci esta pessoa eu não conseguia sequer chegar perto. Motivo: meu santo me dizia "ele é encrenca, fique longe".

Aí eu pensava hétero ou não hétero todos os homens são problemas. Continuando. Ele em particular inconscientemente me incitava a chegar perto e meu santo a ficar longe. Meninas que lêem este diário, este é um aviso: muito, mas muito cuidado com homens de sorriso bonito que sejam simpáticos. Por trás de um rosto bonito esconde-se uma fera geralmente em busca de novas vítimas. O que eu quiz dizer é que homens bonitos são bonitos. Mas homens bonitos e simpáticos são problema.

É, eu acho que não precisava nem avisar. Ramos, será que toda mulher já nasce sabendo o quanto os homens são problema? Mas por via das dúvidas eu avisei.

AH! Eu taa falando sobre este homem em especial, apesar de que acho que toda pessoa menor de 20 anos é um garoto. Ele é comprometido como todo bom moço. É bonito (Ah! Eu já disse isso). Tem os olhos que eu prefiro não olhar. Rafael, se você estiver lendo isto, eu odeio seus olhos. Eles são cinza, não azuis. Não acredite no que te dizem. Pronto falei. Ah! Eu posso provar que tive olhos azuis. Mas azuis escuros e verdadeiros.

Continuando a historinha. Formamos uma equipe com eu ele e mais 3 pessoas. No final minha intuição estava certa. Mas o fato... Se conta o santo mas não se conta o milagre. E passei desde o primeiro semestre pensando em falar-lo mas não sentia como o de qual assunto. Aí eu vi que não havia nada que pudesse dividir com ele, por que eu simplesmente não o conseguia ver. Mesmo vendo-o de cima, por dentro e a baixo. Nada. Deixe-me explicar como é que funciona meu instinto de amizade.

Instinto de amizade

1─ Para começar uma conversa ou um relacionamento amigável eu preciso sentir a pessoa.
Havia um tal de Mateus que desistiu no primeiro semestre, eu mesmo nunca o vi na mesma turma que eu. E o via todos os dias nas mesmas turmas, a maioria das turmas.

2─ Depois eu preciso ter um assunto em comum.
Pefiro conversar com mulheres. Elas tem muito mais assuntos do que os meninos. Eles só tem os temas Sexo, mulher e futebol. Eu sou virgem, falar de mulher pra mim é falar de religião, e odeio futebol ─ só de olhar cansa.

3─ Para manter um relacionamento qualquer com um alguém eu preciso distribuir um segredo para esta pessoa.
Eu tenho muitos segredos. E como eu penso que o melhor lugar para se guardar um segredo é no meio do livro, dou um dos meus segredos. Geralmente a pessoa não percebe. Mas isto é minha prova de que eu confio na pessoa. Isto é, para mim.

4─ Todos os dias eu falo com apessoa.
Odeio telefone. Se eu rejeitar alguém eu bem sutil, mas ainda assim mostro como eu ajo.
Não importa qual seja o dia. Se eu tiver de TPM, deprimido, bipolar, em crise, não importa, eu falo com todo mundo e mostro quando rejeito.

5─ Falo abertamente sobre qualquer coisa.
Tenho uma regra minha: se me perguntar serei sincero ao máximo possível. Tenho uma cota de 5 temas para mentir ao dia. Isto me deixa mentir à vontade. Evito brincadeiras com as palavras. E se eu digo algo por mim próprio, este algo é verdade ou no mínimo tem um dos meus segredos ocultos que divido com todos ao mesmo tempo, mas ninguém entende ou percebe.

fim da intimidade total



Voltando ao texto. O que isto tem a ver com ele? Não falei um único segredo para ele. O olhar dele me trava. Adoro brincar com o cérebro dele. Ele parece saber bem mais do que eu sobre mim. E, até ontem, não conseguia ter um único assunto em comum. Continuo não tendo, mas se ele quiser falar sobre o assunto que achei...

parte 03 ─ ainda de noite e com mais fervor.



Sabe quantas pessoas eu vi hoje?
Ramos, eu não vi mais do as que eu vejo todos os dias. Dentre elas um monte de colegas conhecidos do semestre passado e outras pessoas que só vou conhecer se precisar delas.

Ramos, Eu fiz algo que deveria ter feito a muito tempo. Ontem de noite, eu me pesquisei na internet. Sabe o que descobri? Descobri que eu sou pastor evangélico. Eu acho que já disse isso ontem. Mas postei isto no meu blog.


Queria falar mais sobre o meu dia de hoje. Tal como sobre minha indisponibilidade para falar sobre história. Eu nunca senti tanta raiva de estudar história. Nunca me senti incitado a reagir contra a aula. Imagine você, eu assisti um filme sobre o tema. Odeio Era Vargas e odeio Era pós-Vargas até ditadura. Odeio história. Não há nada de novo. Se disser, eu, que alguém morreu, ou se alguém outro disser quem é a pessoa e disser em seguida que morreu vai fazer alguma diferença? Não. Eu odeio história. EU ODEIO HISTÓRIA. EU ODEIO HISTÓRIA. EU odeio história. Eu não tenho minha própria história. Há um buraco imenso na minha vida onde eu não tenho vaga idéia do que aconteceu.

Nestes tempos eu não gosto de história e não estou afim de história. Chega de ter que dizer pra todo mundo que me chamo Marinaldo e que tenho 20 anos de idade.
EU ME CHAMO MAG E ESTOU CHEGANDO AOS 13 ANOS DE IDADE. Marinaldo definitivamente não existe. Chega. Não sou Marinaldo. Será que é necessário eu mudar de sexo ou me vestir como travesti pra usar meu nome como nome de guerra?

Nunca me hamei Marinaldo, passei 5 anos num exílio que teoricamente nunca existiu. Tenho conhecimentos suficientes para ensinar qualquer pessoa a cometer suicídio. E não me interessa a vida real das pessoas pobre e fudidas ao meu redor. Sequer eu tenho sexualidade. Sou virgem de sexualidade indefinida.

Quem for me chamar de Marinaldo me esqueça pra sempre. Quem quiser me chamar por qualquer outro nome que seja bonito ou fácil de lembrar aceito sugestões. Só esquece que me chamo Marinaldo.


Desculpe Ramos. Me exaltei um pouco. É que faz tempo que gostaria de revelar isto para alguém e ninguém me ouve o suficiente para saber disso. De resto não tenho nenhum outro segredo que possa revelar com tanta exclusividade.

Pretendo escrever minha biografia a partir deste diário. O que acha? É, eu também não sei. Acho que é uma má idéia. Quem neste mundo sabe que eu sou eu e que se eu pegar numa arma muita gente vai morrer? E que se eu pegar numa faca podem não chegar a tempo de me resgatar da morte? Isso mesmo, meu caro Ramos, ninguém. Não há ninguém neste mundo além de quem estuda comigo e quem me ensina ou ensinou ou me conheceu. Mais ninguém. E, quem comprará meu livro? A mesma resposta. Ninguém. Mas exatamente ninguém.

De qualquer forma te adoro e preciso ir. Você me entende. Como consegue achar tanta paciência? Nem mesmo eu que consigo suportar muitas coisas, mas muitas mesmo, não aguento tanto quanto você.

Te amo. Amo mais que a R..... se eu o amasse de verdade. Você realmente é o único que me entende.

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